Friday, February 20, 2009

depende do referencial

Hoje no caminho contei quatro borboletas. Sendo que uma delas era azul, daquelas cintilantes. Simplesmente linda. Me lembrei de quando estudava no colégio de freiras no Alto da Boa Vista. Lá havia muitas desse tipo.

Teve um casal de passarinhos que fez um ninho na rede elétrica. Não é um lugar muito propício, mas ficou bonito, até porque começaram a nascer uns botões de flores lilás. Talvez eles estejam em lua-de-mel.

Num salão de beleza ofereciam um serviço de "hard dreed". Fiquei imaginando se seria uma variação de dread lock, ou apenas uma variação de escrita.

Um pintor desses de muro entitulou a empresa dele de "É isso aí" (o que me lembra aquela versão horrorosa de Ana Carolina para a musica tema de Closer) e até botou um telefone para contato na parede. Deve ser uma boa maneira de marketing.

Vi um moço que andava ligeiramente torto na sua sandália havaiana branca. Será que as outras pessoas também reparam que o meu pé direito está sempre inclinado, e que eu piso com a lateral do pé?

Uma moça estava com um tapão no olho e andava bastante decidida em linha reta. Se alguém olhasse pra ela de perfil, provavelmente pensaria que era bonita.

Mulheres que choram, homens olhando para o relógio, crianças brincando. Meninos de rua lavando um carro e se lavando ao mesmo tempo.

Tudo isso acontecendo dentro dos 20 minutos em que passo de carro. Desconhecidos que por um momento, por força do acaso, dividem o mesmo espaço físico.

Depois ainda me chamam de distraída! Ora essa, não é questão de distração. Muito pelo contrário. Eu só estou prestando atenção em coisas que quase ninguém observa.


Thursday, February 19, 2009

A vida secreta das palavras

Adoro livros, textos, poemas e frases. Mas detesto o fato de que as palavras ainda são o meio mais utilizado para se expressar. Sentimentos não se rotulam. Pessoas sentem diferentemente e, no entanto, temos apenas algumas poucas palavras para explicar tudo isso. E isso porque o português ainda é considerado uma língua de vocabulário muito rico. Imagina se não fosse?


No inglês, por exemplo, não existe palavra que represente a saudade. Ao invés disso, se utiliza o tal "I miss you". De fato, se você sente falta de alguém, deve estar sentindo saudades. Mas não é suficiente.
Você pode sentir saudades e não sentir falta, ficando apenas aquela memória boa do que passou. Você pode sentir falta, mas não querer mais isso pra você. Então será que pode ser considerado saudade?

Ao mesmo tempo, você pode sentir falta de algo que não aconteceu, mas em algum momento lhe pareceu real. É a tal saudade do que não foi. Saudade de um amor não é igual a saudade de um amigo, apesar de que uma pode estar dentro da outra. Saudade de quem você não conheceu. Saudade de quem você conheceu mas não se aproximou. Saudade de quem se conheceu, se aproximou e marcou. Saudade de quem marcou e foi embora. Saudade do que nunca vai acontecer, mas poderia ter acontecido. Saudade de uma ilusão.

Saudade de tudo isso de uma vez só.

Ou, simplesmente, saudade.


Quando o problema é a gente

Ultimamente tenho achado tudo chato. Faço um tipo de trabalho e acho enfadonho. Consigo entrar para o emprego dos meus sonhos e não é aquilo que eu imaginava. Estou cansada de ficar em casa e saio pra me divertir, mas não páro de olhar o relógio. Estou sem paciência para tudo e para todos. Dadas as circunstâncias, chego à conclusão que a chata só pode ser eu.


A verdade é que minha cabeça já está em outro lugar. Qualquer coisa que eu faça agora vai ser um simples preenchimento de tempo. Algo que eu torço para que seja provisório, e ao mesmo tempo temo que não seja. Nada é garantido e tudo o que eu tenho a fazer agora é esperar.


Esperar. Que ironia. Justamente a coisa que eu mais detesto fazer da vida. Sou daquele tipo de pessoa que acha que se não estiver se ocupando da engrenagem do mundo 24h por dia, ele simplesmente pára. Esse negócio de "dar tempo ao tempo" nunca foi minha especialidade.


Pois é. Mas por enquanto isso é tudo que tenho pra fazer. E me esforçar para não enlouquecer durante esses dois meses. Talvez seja um bom exercício.


Sunday, February 15, 2009

Ou isto ou Aquilo

Decisões, decisões e mais decisões.

Acho que a gente percebe que cresce quando "decidir-se" se torna uma tarefa cada vez mais difícil.

Pra começar, durante muito tempo temos as nossas mães pra nos dizer o que fazer: - Tá na hora de fazer o dever de casa. - Come isso que faz bem. - Agora pode ir brincar. Depois vem a adolescência, quando tudo que fazemos é contestar. Por quê? Por quê? Por que? Até que finalmente conquistamos nossa tão sonhada "independência" e chegamos à fase adulta.

E agora, nesse momento, tenho que confessar que tudo que queria era voltar pra aba da saia da minha mãe e gritar: Ma-nhê, e e o que eu faço??? Ela me daria uma resposta e eu assumiria como verdade verdadeira, ficaria tranquila, sabendo que fiz a coisa certa. E pra ser sincera, foi exatamente isso que eu fiz, mas tudo que ouvi foi: - Isadora, isso você tem que decidir sozinha!!!! É o preço da independência.

Só que mais uma vez, ela está certa. Eu TENHO que decidir sozinha. Só eu posso saber o que é melhor pra mim nesse momento. Está na hora de eu viver a vida de Isadora, e não a vida que alguém planejou pra mim.

O problema é que escolher implica em perdas. Sempre. Mas também pode acarretar em ganhos. E como medir isso? Por mais que a gente bote tudo numa balança, quem vai viver a outra possibilidade pra saber como seria melhor? A vida que temos é uma só, sem direito a "tira-teimas" ou qualquer coisa parecida.

A verdade é que eu sei o que quero. Sempre soube. Só não contava que minhas escolhas poderiam não ser boas para outras pessoas. No Fantástico Mundo de Isadora, tudo dá certo e todos ficam sempre felizes e contentes. A questão agora é: Arrisco-me numa decisão que a Isadora no fundo quer, podendo eventualmente chatear outrem ou tomo a decisão segura que os outros querem e corro o risco de me chatear? Ou isto, ou aquilo.

Nessas horas sempre recorro ao poema que li quando tinha uns sete anos, mas até hoje é uma das mensagens mais sensatas que já ouvi:

Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo dinheiro e não compro doce,
ou compro doce e não guardo dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.