Wednesday, March 22, 2006

Em Construção

Essa é a história de uma menina que tudo que via, queria pra si. Mas não era pra ter, ver ou comer. Ela só pensava em SER.
Ser tudo que conhecia.

Ainda pequena, durante o jardim, tentou ser bailarina. Mas na ponta-do-pé descobriu, que sua sina era virar tenista. E foi treinar, até perceber, que era estudando que ia crescer.

Numa dessas conversas, que se tem de mãe pra filha, um dia ela escutou:

- É, minha querida, amigos vêm e vão. Mas família, você sabe, a gente leva pra vida toda.
Na mesma hora, sem pensar, a criança respondeu:
- Mãe, eu quero ser astronauta.

E agora, no colégio, a coisa complicava: era tanta variedade, que nem podia escolher. Na aula de português, queria ser professora, na de artes, pintora, e na de educação física, nada melhor que ser mágica: Imagina só, que beleza: sair por aí levitando e impressionando a todas com sua leveza.

Por não conseguir escolher, recorreu aos cursos. E um atrás do outro, a mocinha foi testando: primeiro inglês, porque a mãe mandou, depois francês pra complementar, o espanhol foi no embalo e o alemão já era vício. Por último, italiano, pra não perder o hábito.

E falando tanta coisa, pensou ser diplomata, o problema era política. Ah, mas presidente ela seria. Sem nem pestanejar. Mas a essa altura do campeonato, já se ocupava com o piano e tinha aula de teatro.

Era informática, natação, hipismo e musculação. Tudo isso de uma vez. E se a cabeça reclamava: análise. Se o corpo gritava: RPG. Pra cuidar da voz, fonoaudióloga. E o médico então, visitava todo mês.

Na hora do vestibular, escolheu arquitetura. Nossa, que milagre! Tomou uma decisão... e foi só entrar pra faculdade que quis fazer psicologia, filosofia e comunicação. Um curso de empreendedorismo também seria legal. Mas acabou optando por cursar em paralelo, desenho industrial.

E assim levou a vida, sempre querendo mais. Uma curiosidade infindável, que nunca se satisfaz. Foi experimentando tudo que via, e até se saia bem. Era um pouco de tudo, mas não ia mais além.

Quando a criança ganhou rugas, finalmente se decidiu:

Depois de tentar tanta coisa, a menina só queria ser uma:



ELA MESMA
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