Ser tudo que conhecia.
Ainda pequena, durante o jardim, tentou ser bailarina. Mas na ponta-do-pé descobriu, que sua sina era virar tenista. E foi treinar, até perceber, que era estudando que ia crescer.
Numa dessas conversas, que se tem de mãe pra filha, um dia ela escutou:
- É, minha querida, amigos vêm e vão. Mas família, você sabe, a gente leva pra vida toda.
Na mesma hora, sem pensar, a criança respondeu:
- Mãe, eu quero ser astronauta.
E agora, no colégio, a coisa complicava: era tanta variedade, que nem podia escolher. Na aula de português, queria ser professora, na de artes, pintora, e na de educação física, nada melhor que ser mágica: Imagina só, que beleza: sair por aí levitando e impressionando a todas com sua leveza.
Por não conseguir escolher, recorreu aos cursos. E um atrás do outro, a mocinha foi testando: primeiro inglês, porque a mãe mandou, depois francês pra complementar, o espanhol foi no embalo e o alemão já era vício. Por último, italiano, pra não perder o hábito.
E falando tanta coisa, pensou ser diplomata, o problema era política. Ah, mas presidente ela seria. Sem nem pestanejar. Mas a essa altura do campeonato, já se ocupava com o piano e tinha aula de teatro.
Era informática, natação, hipismo e musculação. Tudo isso de uma vez. E se a cabeça reclamava: análise. Se o corpo gritava: RPG. Pra cuidar da voz, fonoaudióloga. E o médico então, visitava todo mês.
Na hora do vestibular, escolheu arquitetura. Nossa, que milagre! Tomou uma decisão... e foi só entrar pra faculdade que quis fazer psicologia, filosofia e comunicação. Um curso de empreendedorismo também seria legal. Mas acabou optando por cursar em paralelo, desenho industrial.
E assim levou a vida, sempre querendo mais. Uma curiosidade infindável, que nunca se satisfaz. Foi experimentando tudo que via, e até se saia bem. Era um pouco de tudo, mas não ia mais além.
Quando a criança ganhou rugas, finalmente se decidiu:
Depois de tentar tanta coisa, a menina só queria ser uma:
ELA MESMA.
