Eu vi um menino sentado no meio-fio. Sua cabeça virava incessantemente para os lados a procura de algo. Um amigo, sua mãe, ou talvez apenas procurasse por alguma esperança que nunca virá.
Foi a primeira vez que o vi, e provavelmente nunca mais o verei de novo. Nosso contato foi unilateral e não durou mais do que três segundos. Tempo mais que suficiente para unir nossas vidas pra sempre.
Ele não me viu e dentro de sua cabeça de quem não crê, não faz a menor idéia da importância que sua presença teve sobre alguém que passava naquele momento dentro de um carro. Alguém afastado pela blindagem, pelo vidro fumê e pela barreira intransponível do receio.
Porém, mesmo sem saber, eu e aquele menino dividimos um segredo. Na sua espera ansiosa, eu vi refletida a minha vida inteira e imediatamente dividi com ele todas as suas angústias. Ele herdou as minhas.
Porém angústia que se divide, se dissipa, e com esse (des)encontro medroso, nos tornamos mais fortes. Seguros por saber que não somos os únicos no mundo a temer a esperança, e coragem pra tê-la mesmo assim.